Esse episódio é, no mínimo, peculiar.
Mas, como quem manda aqui é minha mente insana, não posso fazer nada a respeito.
Todavia, você pode. Desligue essa droga de computador e vá ver JN/Malhação/Pânico/futebol.
Boa viagem a todos.
...
Faz alguns anos isso.
Lembro das coisas de uma maneira vaga. Dessa forma, acabam sobrando alguns fatos e faltando algumas lembranças.
Enfim, era meu aniversário de 9 ou 10 anos e minha irmã dizia ter um presente pra mim.
Ela parecia muito empolgada com aquilo, meu pai, se contrapondo à isso, torcia suas rugas só de pensar o que minha irmã havia preparado.
Era um cão. Uma cadela, para ser mais exato.
As suas patas grossas, o corpo troncudo e um fucinho comprido faziam com que eu acreditasse que ela fosse um lobo. Ela tinha uma grande mancha preta nos pêlos das costas, uma mancha preta que, como um lindo degradê natural, ia virando amarelo e, em seguida, branco, conforme ia se desenvolvendo seu corpo.
Essa marca seguia até a cabeça, decorando seus olhos e orelhas.
Aquela pequena criatura me olhou no fundo dos olhos.
Aquele ser, recém nascido, me olhava como se tivesse encontrado um porto seguro.
Imaginei a dor dela quando perguntei para minha irmã onde estava a mãe do pequeno animal.
Ela, como todos os cães comprados, foi retirada da mãe poucas semanas após o parto.
Porém, ao me ver, ela não sentiu mais desespero, não chorava mais, não baixava as minúsculas orelhas para tapar seus olhos e não tentava mais fugir loucamente dos humanos que a cercavam.
Antes mesmo de me sentir feliz com o presente meu pai retrucou algo.
Era a respeito da minha asma. Um garoto com asma não pode correr, não pode brincar e mal pode jogar video games na casa de um amigo, por ter esse maldito problema crônico no sistema respiratório, imagine ter um animal que solta pêlos, lambe o próprio ânus e anda de pé descalços?
Minha mãe, que na época era bem saudável, o fez calar.
Que tipo de pai iria fazer isso? Se a criança tem câncer terminal, você deixaria ela trancada até o último segundo em seu quarto de hospital?
Bem, julgando que sua resposta coincidiu com a minha, vou continuar.
Minha irmã, discordando dele, hm, digamos, fervorosamente, foi embora do ambiente.
Meu pai e minha mãe brigavam cada vez com uma intensidade maior, meu irmão fugia dali em silêncio, para que não o notassem, e eu ficava ali, pensando em qual seria a parcela de culpa do cão.
-TU NÃO SABE CUIDAR DO TEU FILHO!
-AAAH! TU É QUEM SABE, NÉ, FILHA DUMA PUTA?!
-PAAARA, PAAARA COM ESSA HISTÓRIA! DEIXA O GURI TER A PORRA DE UM CACHORRO!
-...
As coisas iam de mal a pior.
A discussão acabou, pelo menos na minha frente.
Eu não lembro o que aconteceu, sinceramente. As coisas, de qualquer forma, chegaram a um nível estúpido. Era a primeira vez que via minha mãe chorar.
Pela primeira vez eu senti vergonha de ser eu.
Pela primeira vez eu vi que era uma espécie de fardo para eles.
Pela primeira vez eu pedi desculpas por uma coisa que não era culpa minha.
Minha mãe engoliu o choro e meu pai, como sempre, veio pedir desculpas e se dispôs a me deixar um pouco mais feliz com o tal do 'presente', mesmo que isso, no conceito dele, o fizesse ser um pai horrível, por me expor a essa doença.
O episódio familiar acaba aí, porém, Lua estava lá ainda, assistindo tudo em silêncio.
Quando fui vê-la, depois desse desentendimento, percebi a tristeza que emanava dela.
"alguém me entende nesse mundo..."
Lua sabia bem como eu estava me sentindo.
Seu olhar me dizia com clareza o que aquele coração canino sentia.
"Eu sei, Lua, vamos ser nós dois agora."
Irônico isso. Sempre fui bom em ajudar os outros, porém, com 10 anos de idade somente um animal pôde me entender de verdade. Imagino se isso não ocorre até os dias de hoje.
Gosto muito do seu modo de escrever,espero que não desista do blog!
ResponderExcluirHaaa... ótimo episódio, até agora achei que foi o melhor! Deve ser pq me identifiquei com ele! ^^
Yuri, o bárbaro, aqui.
ResponderExcluirPorra mas é verdade, toda criança merece um cachorro. Sorte que você conseguiu ficar com o seu. Tanto seu pai quanto sua mãe, creio eu, só pensavam o que achavam melhor pra você.
Paz.
Faltou pouco, bem pouco para eu chorar com isso. Primeiro, você escreve muito bem, e com muita sinceridade. E eu acho que animais (no geral) costumam entender mais as pessoas, do que elas próprias.
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