Ela mudou, e pedir para voltar atrás não é mais viável.
Encare isso.
Boa viagem.
...
Sentia a brisa, o sol e o cheiro de suor das pessoas que compartilhavam comigo o mesmo ônibus.
Mais um dia normal.
Chegar em casa era o objetivo(ou não).
O diálogo ao entrar em casa seguia:
-Pai, eu vou me formar daqui um mês. Vocês vão ir, né?
-Não sei, filho...
-Porra! Não acompanham nada da minha vida!
-Mas...
-Ok. Foda-se, não preciso de nada vindo de vocês.
Triste para uma criança entender o que acontece, e ainda era uma criança a pessoa que encarava aquela situação.
Era importante pra mim!
Doía demais eu não ter esse afeto.
A aceitação sempre é a pior parte.
As músicas não dizem nada, aquele cigarro a mais não faria diferença, os amigos são só coadjuvantes, as pessoas são objetos e eu sou tudo o que eu preciso.
Agora eu sou um adulto e isso tudo é bobagem.
De qualquer forma, ouvia meu irmão, que dizia que tudo aquilo era pra acontecer e que o mundo espiritual jamais faria algo errado.
Pff...
Podem ter tudo calculado aí em cima, no paraíso, ou seja lá onde for, mas não dentro de mim.
Isso nunca entrou na minha equação.
Observei por vários minutos a tela do computador e procurei algo para ouvir. Nada interessante, mas aquela música gritada e pesada que um amigo tinha me mostrado há alguns anos atrás me era recorrente nos pensamentos.
Algo pesado talvez me faça pensar em outra coisa, ou sei lá.
Precisava, enfim, arrumar um terno para minha formatura.
Consegui um qualquer, cinza, com uma gravata que eu fiz questão de escolher a dedo.
Só conseguia pensar na festa e no quanto seria bacana eu dizer para algumas meninas mais novas que eu já era formado.
Foi ridículo eu ter chorado?
Talvez...
Mas ninguém naquela sala gigante que a PUC nos tinha emprestado para a cerimônia de formatura poderia se por no meu lugar.
Chorei não por ter me formado, ou por ter que me afastar de tantos 'amigos', mas, sim, por ter notado que minha sobrinha não estava lá, ou meus tios, ou a minha mãe ou qualquer pessoa que eu considerava família de qualquer forma.
Vi aquelas gurias da outra turma se agarrando e chorando loucamente como se o mundo fosse acabar, os caras combinando de ir 'queimar um' depois da cerimônia e eu...
Meus amigos todos estavam com suas famílias e eu...
Eu estava com meu pai, que tinha que ir embora de uma vez para o hospital e meu irmão, que havia levado uma qualquer como se fosse a mulher dele e não a minha sobrinha, aquela criança linda que me fazia sentir o que era amar alguém e ser amado sem nem precisar necessariamente ter consciência do nome um do outro, da idade, da beleza, ou o que fosse. Ela ria só de me olhar e sempre se divertia muito quando eu a segurava acima de minha cabeça. Ela me dava orgulho, apesar da minha pouca idade, e um sentimento paterno muito forte.
Poucos amigos meus lembraram de me parabenizar, mas muitos lembraram de ligar para perguntar onde era a festa.
Não liguei, achava normal aquilo tudo.
Meu coração parou de emoção quando ouvi aquela voz dizendo meu nome e a minha música começando.
Voltou a bater gelado quando eu notei que ninguém dentre todas as pessoas daquela sala notava minha presença ao caminhar da bancada dos formandos para o centro do palco.
Ainda acho que ninguém que eu amo presenciou aquele momento.
Mas isso é pessimismo demais até mesmo para mim.
"Learn to Fly."
Aprendi, e agora?
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